Porsche 550 SPYDER - Uma outra história de sucesso

Um Documento Único Guardado ... em Portugal




No dia 11 de Março, 279 aviões aliados atacaram Estugarda num raid aéreo que provocou 112 mortos. No dia 15 de Abril de 1943, uma nova vaga de ataques provocou o devastador número de 619 mortos e 703 feridos.
A população de Estugarda entrou em pânico. O medo alastrou-se à família Porsche, que há pouco mais de um ano se tinha instalado na Spitalwaldstrasse, na zona de Zuffenhausen, numas instalações vistosas, isoladas e pouco protegidas. O receio era mais do que justificado, já que à época Ferdinand Porsche era o rosto da engenharia bélica ao serviço de Hitler.
Com a previsão da intensificação dos bombardeamentos, ele temia pelo seu espólio, pelos seus projectos e por toda a documentação que estava reunida na sede da Dr. Ing.h.c.F.Porsche K.G.. A empresa era recente demais para possuir um departamento de cariz arquivista, mas o risco de destruição dos seus trabalhos era muitíssimo elevado. Por esse motivo, o Professor deu pela primeira vez instruções para se proceder à inventariação do acervo documental da empresa Porsche e do relativo à sua própria pessoa.
O documento em questão, datado de 6 de Maio de 1943 (20 dias após o referido bombardeamento) intitulava-se VERZEICHNIS, e correspondia a um exaustivo rol onde se enumeravam todas as referências existentes até à data sobre a sua vida. E a importância deste documento decorre do facto de o mesmo se associar à génese dos primeiros Arquivos da empresa Porsche, um dos primeiros passos rumo aos “Historisches Archiv der Porsche AG”.
O “Index” começa com o título “Unterlagen uber Herrn Professor Ferdinand Porsche” fazendo referência a documentos sobre o Professor Ferdinand Porsche que remontam a 1875, tais como o seu curriculum vitae, a evolução da sua apresentação ao longo dos tempos, bem como dados sobre os membros da família Porsche. Depois percorre todas as suas criações elencando todas as publicações como jornais, folhetos, fotografias, etc.
O segundo passo, mais importante, consistiu na colocação em lugar seguro de todo aquele património documental. Por cautela triplicou-se o repositório. Os esconderijos escolhidos foram o sótão do edifício do n.º 2 da Spitalwaldstrasse, a Porsche Villa (residência da Família Porsche) e a casa de Ghislaine Kaes, sobrinho e secretário pessoal de Ferdinand Porsche.
Na sua Biografia, Ferry Porsche relata um curioso episódio com o seu pai. Este mostrava-se muito descontente pelo facto de o Arquivo ter sido instalado no sótão do edifício da empresa. Segundo ele, a cave era um local muito mais seguro, já que na eventualidade de um bombardeamento, o subsolo iria impedir a sua destruição. Ferry concordava, mas andava tão atarefado que acabava sempre por adiar a mudança. O pai sempre que o via perguntava-lhe em vão: “a papelada, ainda está lá em cima?” Até que um dia, corria o mês de Novembro de 1943, perdendo a paciência, Ferdinand deu-lhe uma forte reprimenda obrigando-o a fazer a troca. Ironia do destino, dois dias depois Estugarda foi novamente bombardeada e uma bomba de médio calibre destinada a arrebentar no telhado entrou caprichosamente pela base do edifício. E destruiu tudo o que se encontrava na cave…arquivo incluído.

O documento que referi intitulado "Verzeichnis" e que está na génese dos Arquivos, não está em Estugarda. Por incrível que possa parecer está comigo, já que o comprei há uns anos atrás num leilão na Alemanha. 
Zico Ramone 
Nota - Uma parte deste texto foi anteriormente publicada na revista AutoVintage

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